quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Introdução

O trabalho realizado visa estudar e entender as idéias dos arquitetos Adolf Loos e Henry van de Velde em relação ao uso de ornamentos na arquitetura. Entre 1850 e 1950, período de grande expansão para a arte e de muita turbulência para a humanidade, o ornamento esteve no presente em muitas discussões. Os métodos industriais de produção transformaram radicalmente a presença dos ornamentos nas grandes cidades. Fabricados anteriormente em pequenas oficinas, por artesãos que utilizavam materiais e procedimentos técnicos aperfeiçoados lentamente durante séculos, os ornamentos passaram a ser feitos em galpões industriais, segundo as exigências da produção em série. Novos métodos de organização do trabalho, técnicas e materiais foram desenvolvidos para multiplicar a produção; o artesão que trabalhava com uma pequena equipe de trabalhadores e aprendizes foi substituído pelo operário responsável por um fragmento incessantemente repetido da cadeia produtiva. Os ornamentos deixaram de ser concebidos e fabricados exclusiva ou prioritariamente em função de projetos específicos de residências ou prédios públicos, envolvendo a participação de arquitetos, artistas e artesãos, para se transformarem em mercadorias produzidas em larga escala e direcionadas ao consumo de diferentes camadas da população urbana. Dessa forma, a pesquisa realizada tem o intuito de conhecer melhor as opiniões dos arquitetos modernistas, trazendo as condenações que Adolf Loos faz ao uso de ornamentos e a defesa que Henry van de Velde faz, aderindo ornamentos aos seus projetos.

Adolf Loos
Henry van de Velde
Bibliografia

Casa de Henry van de Velde. Uccle, Bruxelas.

Casa do arquiteto Henry van de Velde em Bloemenwerf (1896). Uccle, próximo a Bruxelas. Este talvez seja o exemplo mais típico de uma tendência bem difundida na arte e na arquitetura de então: o artista fazer de sua própria casa um símbolo concreto de sua filosofia e ideais. A casa de Van de Velde ilustra a coexistência, comum na época, de motivos sinuosos e motivos claramente funcionais.

Henry van de Velde

Henry van de Velde (1863-1957), desenhista e teórico belga, iniciou seu trabalho como arquiteto em 1894, aos 31 anos, quando depois de dez anos como pintor neo-impressionista, publicou o ensaio Deblalement d’art. Este ensaio visava separar a arte a serviço da sociedade, estava claramente influenciado por aqueles preceitos pré-rafaelistas, que Van de Velde aprendeu através de sua associação com o grupo vanguardista Les XX. Desde sua fundação em 1889, este grupo de artistas belgas havia mantido estreitos vínculos com a Inglaterra, e em particular com Walter Crane, protegido de Willian Morris. Sob a influência de Crane, o grupo abandona suas preocupações com as Belas Artes e assume o desenho do entorno como um todo. Em 1892, Van de Velde abandona a pintura e direciona sua arte para a decoração e arquitetura, sendo considerado uma das pessoas que servem de inspiração para o movimento Arts and crafts. Henry van de Velde faz sua apresentação como arquiteto e desenhista em 1895, quando projeta e constrói uma casa para si em Uccle, na região de Bruxelas. Esta casa pretendia mostrar as sínteses definitivas de todas as artes, completando-a com todos os acessórios e ornamentos, móveis, cortinas, candelabros, até o vestido de sua esposa.
Em 1896, Van de Velde realizou em Paris uma exposição de móveis que, com suas linhas onduladas e seus motivos orgânicos, foram fundamentais para difundir o Art Nouveau na França. No ano seguinte, com uma exposição em Dresden, obteve na Alemanha resultados idênticos.Depois de ter sido consultor nas indústrias artesanais de Gran Ducado de Sajonia-Weimar desde 1901, em 1904 foi nomeado professor da Escola de Artes e Ofícios (Arts and Crafts). Este nomeamento permitiu aceitar o cargo de desenhista de novos locais, tanto para escolas como para a existente Academia de Belas Artes, que mais tarde se converteria na Bauhaus de Weimar.Van de Velde dá continuidade aos princípios de Morris ao procurar a funcionalidade e a simplicidade, defendendo que acima do gosto decorativo está a funcionalidade, aceitando a decoração que não a prejudique. Assim, se um objeto é para ser útil deve transmitir a sua funcionalidade e igualmente seduzir o utilizador com as suas formas, a decoração e a construção fazem parte de um todo. Apesar de dificilmente suas peças poderem ser reproduzidas por máquinas, Van de Velde, defende a aliança entre a indústria e a arte. Para ele o artista deveria ser um criador livre e espontâneo, e não sujeito às exigências do mercado nem de uma produção em série. As suas teorias viriam a ser amadurecidas, por uma nova geração de criativos, que viriam a conseguir, a aliança entre a estética, criatividade e produção em série.
Após projetar em 1914 o teatro do Deutscher Werkbund em Colônia, destruído mais tarde, viajou intensamente pela Europa, retornando à Bélgica em 1925. Desde então, dedicou-se sobretudo a ensinar, mas ainda projetou alguns prédios, como o do Museu Kröller-Müller em Otterlo, Países Baixos, que demonstram sua progressiva aproximação da arquitetura racionalista.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ornamentos




Ornamentos e acessórios criados por Henry van de Velde.

Bibliografia

Adolf Loos e a crise da cultura, 1896 - 1931. In: FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo, Editora Martins Fontes, 1997.

A "Art Nouveau". In: BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo, Editora Perspectiva. 3ed. 2001.

LUSTENBERGER, Kurt. Adolf Loos. Barcelona, Editora Gustavo Gilli, 1998.

SCHEZEN, Roberto. Adolf Loos, arquitectura 1903-1932. Textos de Kenneth Frampton y Joseph Rosa. Barcelona, Editora Gustavo Gilli, 1996.

PAIM, Gilberto. A beleza sob suspeita. São Paulo, Editora Jorge Zahar, 1998.

"Henry van de velde y la abstracción de la empatia, 1895-1914". In: FRAMPTON, Kenneth. História Crítica de la Arquitectura Moderna. Barcelona, Editora Gustavo Gilli, 1987.

BARILLI, Renato. Art Nouveau. São Paulo, Editora Martins Fontes, 1991.

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Adolf Loos

Adolf Loos (1870-1933), notável arquiteto nascido em Brno e educado no interior, é surdo até os doze anos, e talvez esta limitação física influa em seu caráter e em seu destino, com um temperamento isolado como homem antes do que como artista.
Entre 1893 e 1896, enquanto na Áustria começa a polêmica modernista de Wagner, Loos viaja pela Inglaterra e pela América. Voltando à pátria, começa a trabalhar com dificuldade, realiza algumas decorações e, em 1904, o primeiro edifício: a Villa Karma, inspirada em Wagner pelo ordenamento parcialmente simétrico, pelo uso de superfícies amplas e de aberturas límpidas, contrapostas à ordem dórica isolada que marca a entrada principal; o reboco branco, contudo, igualando todos os elementos do edifício, abole o costumeiro contraponto cromático e restabelece as determinações volumétricas tradicionais, que tornam esta arquitetura bastante mais encorpada e menos rebuscada do que os modelos wagnerianos.
Adolf Loos, também inspirado em Otto Wagner, realiza uma arquitetura com marcos tradicionais, criando a teoria Raumplan. Como precursor da Raumplan, Loos tratava a relação do ambiente com o homem, cada espaço deveria ser projetado individualmente, e o desenvolvimento da planta se daria em diferentes cotas, de acordo com a vivência ali feita e os volumes em desníveis, através do desenho, seriam encaixados e formariam o conjunto. Através das variações de altura das divisões, bem como das proporções adotadas e das mudanças de materiais, é estabelecida uma hierarquia entre os diversos espaços; criam-se zonas dentro da casa, definindo também graus de intimidade de cada divisão.
Quando Loos desenvolveu seu conceito de Raumplan, seguindo a livre disposição dos volumes internos, em suas últimas obras, as casas Moller e Muller ele demonstrou sua predileção por formas cúbicas, manipulando o prisma. Aplicou essa teoria na construção de um conjunto de casas em massa, criando vários cubos que eram interligados por estufas e terraços onde era possível cultivar o próprio alimento. Sua influência foi indispensável para a criação do programa topológico do Purismo, a planta livre com o volume irregular.
Em 1908, escreveu o manifesto chamado "Ornamento e Crime", no qual procura claramente aliviar o peso da ornamentação em prol da funcionalidade, fazendo críticas em relação ao domínio do arquiteto sobre a construção. Segundo Adolf Loos, deveria existir uma diferença entre o que era ou não estrutural na obra, alegando que cada morador específico deveria ter direito de escolher sua própria decoração, de acordo com o próprio gosto. O arquiteto não iria decorar, mas conceber a obra, somente as paredes lhe pertenciam, ele criaria todas as partes fixas dela, e as móveis não sofreriam influência dele.
A abolição da ornamentação como progresso que mais controvérsia gera. É então preciso lembrar que este manifesto é escrito contemporaneamente com o Arts and Crafts , que é a favor e usa abundantemente da ornamentação, logo compreendemos que vem em agressiva reação, não só a estes mas também a toda uma classe que vive esse movimento.
Em sua obra “A história de um pobre homem rico” Adolf ironiza Joseph Maria Olbrich e Henry van de Velde, dizendo que era desperdício tanta ornamentação, pois a obra excessiva não duraria mais do que alguns anos, perdiam-se material e tempo, além de existir uma escravidão do artesão, pois ele não poderia usufruir dessas ornamentações e nem possuía mais o direito de livre escolha de sua arte. Com todas essas críticas e argumentos Loos acabou por isolar-se de seus contemporâneos, sucessores e secessionistas.
Para ele a arquitetura deveria se preocupar com o contexto e não aplicar teorias sem estudar antes o que ocorre ao seu redor, o vestuário deveria ser sem ostentação e o mobiliário anônimo. Com esses pensamentos ele acabou por ter uma grande conexão com os anglo-saxões, devido à simplicidade, procurava combinar o interior característico deles com as formas clássicas, um exterior simples que guardava um interior adaptado ao contexto.
Segundo a crença de que as paredes pertenciam ao arquiteto, Adolf Loos usava, em edifícios públicos, tetos quase sem adornos, enquanto os privados eram ornamentados em madeira ou metal, às vezes realçados por vigas de madeira, os pisos eram em madeira, cobertos por tapetes orientais, enquanto os arredores das lareiras, frequentemente de tijolos, apresentavam uma textura que contrastava com os destaques da iluminação, já no restante da parede ele criava painéis para servir de cobertura.